quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Um Brasil pra chamar de meu

Não, eu não estou maluco! Não, eu não faço parte da "esquerda caviar" e, sequer tenho pretensões de ser um "coxinha". Sou um jornalista, mineiro, quase nos meus quarenta anos (difícil admitir isso aqui), leonino e convicto que eu quero um Brasil para chamar de meu. Sempre gostei de política, mesmo naqueles tempos em que a gente não acreditava em quem a fazia. Talvez, hoje ainda temos motivos para não acreditar, mas eu ainda acredito.

Sabe, passei a minha infância ouvindo que o "Brasil é o país do futuro". Sejam nos jargões dos telejornais e/ou novelas e em músicas, como 1965 (Duas Tribos) em que o Renato Russo esbravejava a estrofe: 


"(...) O Brasil é o país do futuro

O Brasil é o país do futuro
O Brasil é o país do futuro
O Brasil é o país
Em toda e qualquer situação
Eu quero tudo pra cima
Pra cima (...)"

A música é datada do início da década de noventa. Auge da minha adolescência. E foi também nesse período  que algumas lembranças insistem em permanecer na minha cabeça. Como os estranhos estoques de produtos que minha mãe fazia em casa. Eram fardos de papel higiênico, pacotes de sabonetes, caixas de sabão em pó, fardos de açúcar, arroz... Minha casa parecia um atacado. Mas, eu mal sabia que aquilo ali, que ocupara tanto espaço, era, na verdade, a única forma de termos esses produtos em casa. A inflação fazia com que o pouco dinheiro que tínhamos se desvalorizasse.


Não muito diferente era a escola onde eu fazia o ensino médio (na época, o científico). Era estadual. Cansei de contabilizar as vezes que as professoras sequer tinham giz para escrever no quadro negro, das vezes que tínhamos que fazer gincanas para arrecadar dinheiro para comprar equipamentos que nos seriam úteis, das vezes que tínhamos que nos organizar em sala de aula para desviar de goteiras, das vezes que fazíamos educação física fora da escola porque na quadra poliesportiva não havia condições. E de lá para a faculdade (privada e cara) foram cinco anos de espera.


Mas, o que eu mais me lembro era a quantidade de pessoas nas ruas. Pedintes, mendigos, vendedores ambulantes e fracassados. Era um cenário quase diário. Me lembro de pessoas que vinham à porta da minha casa pedir nem que fosse um pedaço de pão velho, um trapo, um prato de comida. E nem sempre tínhamos o que oferecer. Era triste. 


Hoje não! Há tempos um pedinte não bate à minha porta. E quando aparece, eu tenho algo pra eles. Seja uma camisa, uma roupa de cama, um short, um pacote de leite... Enfim. 

Não posso dizer que éramos pobres, mas afirmo que não tínhamos nada além daquilo que podíamos ter. Hoje não! Hoje eu bato no peito e digo: sou classe média. Tenho acesso a produtos úteis e inúteis. Assim como você que deve estar lendo no seu desktop, ou no seu smartphone, ou no seu tablet.

O Brasil que eu quero chamar de meu vai muito além das coisas que "EU" posso ter. O Brasil que eu quero chamar de meu é seu, é do seu vizinho, tem que ser daquela dona de casa que luta para educar os filhos, daquele marceneiro que não vê o dia terminar para tomar uma cerveja no bar da esquina, do empresário bem sucedido, do enfermeiro que dedica o trabalho dele para cuidar dos outros, do gari que recolhe seu lixo todos os dias, do professor que tem, muitas vezes, tem que ocupar o lugar do pai e da mãe para educar, do aposentado que já trabalhou a vida inteira e, agora, busca um pouco de dignidade e de tantos outros que fazem o nosso país ser uma nação.


 O Brasil que eu quero chamar de meu vai além do ar condicionado de sua casa, do seu carro, do shopping que você frequenta, da roupa de marca que você escolhe para qualquer evento, do pró-seco que você brinda com os amigos. O Brasil que eu quero chamar de meu é o país do futuro.